Carlos Nóbrega

1979-09-19 Funchal
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A Fórceps

O que cantar
de tão magra musa
de tão pó a flora
e lira tão penosa ?

Entre mágoa e míngua
a imaginação estia
a se repetir no se-repetir
do lacrau caatinga
e das mãos ao alto
dos mandacarus.

Oh que torrão enxuto
oh mulher inúmida
oh ser tão enxuto
com seu cabelo seco
sua roupa enxuta
seu lábio ressecado
como se estivesse
sob um toldo azul:

essa terra mora
embaixo de um telhado
(mesmo que janeiro
feche o guarda chuva,
traga um copo d’água).

Já que o tempo é feito
de um sol de incêndio
é visível o vento
esse gato súbito.

E a visagem à frente
dá-se em catarata
como se fervesse
o que de fato ferve.

Pois
o que cantar
de avara lira
de musa tão magra
de tão pó as rosas ?

Perguntem ao Feitosa
que retira lírios
dos olhos das cobras.

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