Ruy Belo
Rui de Moura Belo foi um poeta e ensaísta português.
1933-02-27 Rio Maior, Portugal
1978-08-08 Queluz
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Friso de raparigas de Jerusalém
Raparigas no lusco-fusco recortadas
prestes a entoar o cântico da noite
e envoltas no inconsútil tule da sua juventude
dispostas a rasgar os véus vigilantes dos sonhos
são compridos ciprestes soerguidos sobre
as colinas que dezassete vezes viram
destruir a cidade de Jerusalém
Os amados virão quando vier o sábado
pais e mães jazerão sob a pedra da idade
e então elas sozinhas e suaves pensarão
em quem antes do verão virá em nuvens quentes de vapor
E por uma manhã de luz ainda rasa
toucadas de alegria e de neblina
elas hão-de passar a pertencer-lhes e
eles serão seus donos como de uma casa
A sombra adensa-se e condensa-se nos vales
e as mesmas estrelas que séculos antes
olharam cintilantes já as águas do dilúvio
hão-de furar o manto envolvente da noite
Será então a hora de as eternas raparigas
levantando nas mãos as ansiosas ânforas
derramarem o liquido das vozes sobre essa cidade
se dezassete vezes destruída já dezoito construída
E através do tempo os braços dessas raparigas
ligados uns aos outros pela seiva da imorredoura juventude
insistirão na transmissão da vida
Ruy Belo | "Obra Poética de Ruy Belo" - Vol. 2, págs. 46 e 47 | Editorial Presença Lda., 1981
prestes a entoar o cântico da noite
e envoltas no inconsútil tule da sua juventude
dispostas a rasgar os véus vigilantes dos sonhos
são compridos ciprestes soerguidos sobre
as colinas que dezassete vezes viram
destruir a cidade de Jerusalém
Os amados virão quando vier o sábado
pais e mães jazerão sob a pedra da idade
e então elas sozinhas e suaves pensarão
em quem antes do verão virá em nuvens quentes de vapor
E por uma manhã de luz ainda rasa
toucadas de alegria e de neblina
elas hão-de passar a pertencer-lhes e
eles serão seus donos como de uma casa
A sombra adensa-se e condensa-se nos vales
e as mesmas estrelas que séculos antes
olharam cintilantes já as águas do dilúvio
hão-de furar o manto envolvente da noite
Será então a hora de as eternas raparigas
levantando nas mãos as ansiosas ânforas
derramarem o liquido das vozes sobre essa cidade
se dezassete vezes destruída já dezoito construída
E através do tempo os braços dessas raparigas
ligados uns aos outros pela seiva da imorredoura juventude
insistirão na transmissão da vida
Ruy Belo | "Obra Poética de Ruy Belo" - Vol. 2, págs. 46 e 47 | Editorial Presença Lda., 1981
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