Eduardo Guimaraens

1892-03-30 Porto Alegre RS
1928-12-13 Rio de Janeiro
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Doçura de estar só quando a alma torce as mãos

Doçura de estar só quando a alma torce as mãos!
— Oh! doçura que tu, silêncio, unicamente
sabes dar a quem sonha e sofre em ser o Ausente,
ao lento perpassar destes instantes vãos!

Doçura de estar só quando alguém pensa em nós!
De amar e de evocar, pelo esplendor secreto
e pálido de uma hora em que ao seu lábio inquieto
floresce, como um lírio estranho, a Sua voz!

E os lustres de cristal! E as teclas de marfim!
E os candelabros que, olvidados, se apagaram!
(E a saudade, acordando as vozes que calaram!
Doçura de estar só quando finda o festim!

Doçura de estar só, calado e sem ninguém!
Dolência de um murmúrio em flor que a sombra exala,
sob o fulgor da noite aureolada de opala
que uma urna de astros de ouro ao seio azul sustem!

Doçura de estar só! Silêncio e solidão!
Ó fantasma que vens do sonho e do abandono,
dá-me que eu durma ao pé de ti do mesmo sono!
Fecha entre as tuas mãos as minhas mãos de irmão!


Publicado no livro A divina quimera (1916).

In: GUIMARAENS, Eduardo. A divina quimera. Org. e pref. Mansueto Bernardi. Porto Alegre: Globo, 194
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