Carlos Frydman

1924-11-15 Varsóvia (Polônia)
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Viaduto do Chá

"E me largo desarmado nos transes da enorme cidade."
(Mário de Andrade)

IV

Perpassam, o viaduto
carrancas petrificadas em carnes rijas,
sorrisos sofridos deflagram estigmas
de alegrias pálidas e seriedades temerárias.
Viaduto,
destino impingido, caminho sem escolha,
ultrajante travessia,
aorta da evasão,
perdição de filosofias e blasfêmias;
patamar das discordâncias unissonantes,
murmúrios monocórdios de vulcões soterrados.
Viaduto,
inabalável frieza de serventia petrificada,
estático aos retornos inevitáveis,
de sobreviventes desfalcados, diuturnos.

Mas, se no ímpio transcurso
alguém salta do viaduto,
já não é mais drama:
faz parte do panorama.

Domingo, o viaduto será belo e ameno
em sua feição exata e domingueira.
Na segunda, a vida desfilará desvivida.


In: FRYDMAN, Carlos. Sintonia: poesia. Pref. Fábio Lucas. Apres. Henrique L. Alves. Campinas: Pontes, 1990
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