Horizontal
A Margot
I Tua falta é toda
horizontal. Como teus braços
que não cabiam entre estátuas
requisitando espaços
desconhecidos.
Teus amigos nunca marcaram
teu limite ilimitável. Eras de todos
e de ninguém, como também sabias
te ausentar, presente,
e longe, nos saudar.
Não perdestes a mania.
Ficou nuns versos que leste
para mim, sem exclusividade,
a marca de uns lábios eternamente fantasmas
que reclamarão eternamente por vida.
Querias vida, ela te queria,
como irmãos que se entendem.
II Tua falta é toda
horizontal. Teu corpo se ressentia
de ar em pleno campo, e o suprias
no leque dos gestos largos
empinadores de nuvens,
Tudo em volta contaminação.
Gostaste das palavras. Pegaste
em minha mão para a cartilha imensa
de ti mesma, e enfileiraste amigos entre
dedos e anéis mágicos, dentes
dolorosos, marcas.
Prevenias, vingativamente, uma ausência
súbita: vivas pelo tempo que sempre
te faltaria, fosse em ti incontável,
em ti se reduzindo.
III Tua falta é toda
horizontal. Não atinge de vez,
de sempre fantasma que reclama a colheita.
Por isso te censuras, sorrindo,
o que de teu sorriso não frutificou.
Não frutificou o grito agudo de morte.
Não frutificou um abandono a todos os desesperos.
Não frutificou a inocência entre as relatividades.
Teu fruto único é o horizonte, a suavidade
de tua falta, o conforto de tua falta.
Pois já existiu quem faltava
e, sem dor, nos faz companhia.
In: VILLAÇA, Alcides. O tempo e outros remorsos. Pref. Alfredo Bosi. Il. Edgard Rodrigues de Souza. São Paulo: Ática, 1975. Poema integrante da série Os Amigos
I Tua falta é toda
horizontal. Como teus braços
que não cabiam entre estátuas
requisitando espaços
desconhecidos.
Teus amigos nunca marcaram
teu limite ilimitável. Eras de todos
e de ninguém, como também sabias
te ausentar, presente,
e longe, nos saudar.
Não perdestes a mania.
Ficou nuns versos que leste
para mim, sem exclusividade,
a marca de uns lábios eternamente fantasmas
que reclamarão eternamente por vida.
Querias vida, ela te queria,
como irmãos que se entendem.
II Tua falta é toda
horizontal. Teu corpo se ressentia
de ar em pleno campo, e o suprias
no leque dos gestos largos
empinadores de nuvens,
Tudo em volta contaminação.
Gostaste das palavras. Pegaste
em minha mão para a cartilha imensa
de ti mesma, e enfileiraste amigos entre
dedos e anéis mágicos, dentes
dolorosos, marcas.
Prevenias, vingativamente, uma ausência
súbita: vivas pelo tempo que sempre
te faltaria, fosse em ti incontável,
em ti se reduzindo.
III Tua falta é toda
horizontal. Não atinge de vez,
de sempre fantasma que reclama a colheita.
Por isso te censuras, sorrindo,
o que de teu sorriso não frutificou.
Não frutificou o grito agudo de morte.
Não frutificou um abandono a todos os desesperos.
Não frutificou a inocência entre as relatividades.
Teu fruto único é o horizonte, a suavidade
de tua falta, o conforto de tua falta.
Pois já existiu quem faltava
e, sem dor, nos faz companhia.
In: VILLAÇA, Alcides. O tempo e outros remorsos. Pref. Alfredo Bosi. Il. Edgard Rodrigues de Souza. São Paulo: Ática, 1975. Poema integrante da série Os Amigos
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