Carlos Nejar
Luís Carlos Verzoni Nejar, mais conhecido como Carlos Nejar, é um poeta, ficcionista, tradutor e crítico literário brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filosofia.
1939-01-11 Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
19543
0
0
Purificação
Coarar as emoções,
junto às camisas e lenços,
secando tudo isto,
para os poder usar
no serviço.
Coarar as emoções
febris e as elevadas
na grama ou laje de viver,
no quintal,
lavando estas peças
do bem e do mal,
amontoando-as
na bacia, ao fundo.
Talvez o sol.
Antes que tal suceda,
que as paixões sequem
e o medo e os pressentimentos
vindos, amiúde,
no tecido que fomos e somos,
as Parcas entrarão
para dentro do inverno
e nós esperaremos,
a depender do tempo,
do barro, dos elementos,
a depender de fios, atavios,
céu, inferno,
a depender da sorte
que nos recolhe
ao balde.
A alma! Que o ferro de engomar
a desenrugue dos erros
e ela se limpe, ao menos!
Que o ferro alise
suas ênfases, tropeços.
E trace as imagens
nas emoções mais velhas,
nas que foram pisadas.
Esquecê-las!
O ferro de passar
no mundo inapreendido.
Depois,
coser botões caídos
ou quem sabe,
coser os símbolos
e a jubilação do dia.
Que a alma, ao menos,
saia sem vincos!
Publicado no livro Ordenações (1969). Poema integrante da série Ordenação Primavera: Regate.
In: NEJAR, Carlos. Obra poética I. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. p.262-263. (Poiesis
junto às camisas e lenços,
secando tudo isto,
para os poder usar
no serviço.
Coarar as emoções
febris e as elevadas
na grama ou laje de viver,
no quintal,
lavando estas peças
do bem e do mal,
amontoando-as
na bacia, ao fundo.
Talvez o sol.
Antes que tal suceda,
que as paixões sequem
e o medo e os pressentimentos
vindos, amiúde,
no tecido que fomos e somos,
as Parcas entrarão
para dentro do inverno
e nós esperaremos,
a depender do tempo,
do barro, dos elementos,
a depender de fios, atavios,
céu, inferno,
a depender da sorte
que nos recolhe
ao balde.
A alma! Que o ferro de engomar
a desenrugue dos erros
e ela se limpe, ao menos!
Que o ferro alise
suas ênfases, tropeços.
E trace as imagens
nas emoções mais velhas,
nas que foram pisadas.
Esquecê-las!
O ferro de passar
no mundo inapreendido.
Depois,
coser botões caídos
ou quem sabe,
coser os símbolos
e a jubilação do dia.
Que a alma, ao menos,
saia sem vincos!
Publicado no livro Ordenações (1969). Poema integrante da série Ordenação Primavera: Regate.
In: NEJAR, Carlos. Obra poética I. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. p.262-263. (Poiesis
573
0
Mais como isto
Ver também