Lucille

Lucille

.close my eyes and pass away.

16 janeiro Joinville/SC
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Clarão

Em que instante nos perdemos em imensuráveis vazios velados? Eu ainda me lembro de quando você me dava a mão ao tempo que o cheiro do queijo fresco no café da manhã fazia companhia. As rosas não envelheciam, pois havia sempre uma xícara com água bordada de poesia. As fitas vermelhas representando a paixão escandalosa, cravos brancos te faziam sorrir.

Não coube no peito, sintomas ruins me amordaçavam enquanto você dançava tango na cozinha improvisada que nos pertencia.  Senti os acordes do teu peito antes de conhecer tua face – hostil, embelezada com o sorriso desatado. Marrom, sempre me vem à cabeça. Apesar de estares de camiseta verde, lembro de marrom. Era a cor da paixão, da minha paixão naquela noite. Gosto de cores, como posso dizer...rochosas? Frias.

Eu quis pintar Gogh durante quatro anos consecutivos, quis espalhar que a arte é feita por passos minuciosos e desestruturados. Não soube que a minha arte era contemporânea, a tua, tão pouco barroca e romancista, fez-me alvoraçar o modernismo em nós.

Pobre poeta que não contenta-se com o passado, mesmo utilizando dele em seus versos, ele está aqui, mas sua sintonia esta despedaçada entre períodos que nem ele mesmo reconhece.

Ultimamente tenho preferido fazer analogias ao que identifico por mim. Terror. Você que me fez gostar de Antares de entender que sou um Incidente, e mesmo assim, não deixo de ser um clássico. Pra poucos.

Me reconheço por tua, eu tinha de reconhecer a mim. Me reconheço por acordar com teu cheiro de família. Reconheço que a vida é essa estribeira, vou rolando, descendo, escorregando a lugares aos quais posso pertencer.  É difícil entender, sou mulher formada em tua escola, aluna assídua – mais do que qualquer outra. Me fizeste esquecer que sou redemoinho, e por tempos, achei que poderia ser um sopro leve.

A vida acontece, não adianta...Minhas pegadas vazias e desordenadas são doença crônica. Andar entre abismos é minha sina. Poderia ser um sítio, animais e bolo fresco na manhã, por que eu ainda prefiro passar o café sozinha?

Sabe, nada nunca foi fácil, e acho que me acostumei com essa tal coisa de precisar sentir a vida em suas piores e melhores formas. Queria encaixar na borda da tua camiseta e balbuciar: fica.

Tristeza é que todos os dias eu lavo roupa, mesmo quando chove.

Choro, penso. Não somos mais nós. E inquietamente ela berra do quarto que os desenhou em seu destino.

Realmente, o verões e os invernos se foram com nosso calor. Mas agora somos Clarão.

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