Carlos_Gildemar_Pontes
Escritor, Doutor em Letras. Professor de Literatura da Universidade Federal de Campina Grande, Editor da Revista Acauã.
Fortaleza-CE
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EXISTE UM MUNDO FORA DA INTERNET
O melhor mesmo seria perguntar se existe um mundo fora da internet. Parece que, se existe, está agonizando. Estamos lentamente (uma imensidão de gente) transferindo nossos afetos para as redes sociais. E quando um afeto se transforma em autoimagem, que afasta a pessoa do real, o mundo real vai ficando opaco. Cada vez mais o ego precisa de curtidas, compartilhamentos, comentários. Esse acúmulo de empatia em estado de aparência nos faz cair na ilusão de uma vida sem riscos de atropelos, assaltos, tragédias, porque o nosso santo cantinho diante do computador ou do celular nos dá a segurança de uma existência de sorrisos.
Paralelemente, o mundo real segue com seus sistemas de controle cada vez mais aperfeiçoados. A luta de classes ficou mais sofisticada, pode promover a aparência da igualdade quando eu posso postar da mesma forma que o presidente pode também. E eu posso rebatê-lo, posso esbravejar e criar meu protesto ou simplesmente replicar o protesto de alguém. Essa malha ilusória que nos faz pensar em igualdade é uma armadilha para ir, aos poucos, determinando nosso lugar no espaço dessa luta por audiência virtual. Quem detém o poder e está no controle de tudo sabe que o mundo fora da internet é para quem é livre e autossuficiente. Os zumbis das redes sociais precisam de doses cada vez maiores de sensacionalismo para estimularem sua integração com a virtualidade. O espetáculo, enfim, atingiu a humanidade, como preconizou Guy Debord.
A mim, me parece, que posso viver sem essa transferência pacífica e servil para o mundo virtual. Posso controlar meus neurônios e barrar o alojamento do chip cerebral que se alimentará das aparências.
Ainda gosto de lembrar e sentir o cheiro das pessoas. De sentir o pelo arrepiado. De esperar e trocar longos abraços por outros longos abraços. Olhar para fora de mim e ver que não tem uma tela pequena ou grande manipulando meus dedos e meu tempo. George Orwell já havia me alertado que o grande irmão estava de olho em nós. E Huxley previu até que passaríamos por um tipo de controle como seria o código de barras. Esses são meus companheiros de mundo real. Senhores sem idade que romperam o tempo para me dar mais créditos para viver a realidade.
Não quero me tornar um agente Smith, a serviço da Matrix, muito menos amanhecer transformado num inseto, como advertiu meu amigo Kafka. Quero cultivar minhas idiossincrasias e remendar meus erros na beira da praia, num efêmero castelo de areia. Afinal, se não fosse a onda que brinca de arrastar e devolver nossos sonhos ao mar, por que eu faria castelos para me tornar prisioneiro deles?
Minha memória me fez sorrir. Trouxe-me os cheiros e os abraços que perdi. Há nuvens no céu, livros sobre a mesa. Au revoir!
Paralelemente, o mundo real segue com seus sistemas de controle cada vez mais aperfeiçoados. A luta de classes ficou mais sofisticada, pode promover a aparência da igualdade quando eu posso postar da mesma forma que o presidente pode também. E eu posso rebatê-lo, posso esbravejar e criar meu protesto ou simplesmente replicar o protesto de alguém. Essa malha ilusória que nos faz pensar em igualdade é uma armadilha para ir, aos poucos, determinando nosso lugar no espaço dessa luta por audiência virtual. Quem detém o poder e está no controle de tudo sabe que o mundo fora da internet é para quem é livre e autossuficiente. Os zumbis das redes sociais precisam de doses cada vez maiores de sensacionalismo para estimularem sua integração com a virtualidade. O espetáculo, enfim, atingiu a humanidade, como preconizou Guy Debord.
A mim, me parece, que posso viver sem essa transferência pacífica e servil para o mundo virtual. Posso controlar meus neurônios e barrar o alojamento do chip cerebral que se alimentará das aparências.
Ainda gosto de lembrar e sentir o cheiro das pessoas. De sentir o pelo arrepiado. De esperar e trocar longos abraços por outros longos abraços. Olhar para fora de mim e ver que não tem uma tela pequena ou grande manipulando meus dedos e meu tempo. George Orwell já havia me alertado que o grande irmão estava de olho em nós. E Huxley previu até que passaríamos por um tipo de controle como seria o código de barras. Esses são meus companheiros de mundo real. Senhores sem idade que romperam o tempo para me dar mais créditos para viver a realidade.
Não quero me tornar um agente Smith, a serviço da Matrix, muito menos amanhecer transformado num inseto, como advertiu meu amigo Kafka. Quero cultivar minhas idiossincrasias e remendar meus erros na beira da praia, num efêmero castelo de areia. Afinal, se não fosse a onda que brinca de arrastar e devolver nossos sonhos ao mar, por que eu faria castelos para me tornar prisioneiro deles?
Minha memória me fez sorrir. Trouxe-me os cheiros e os abraços que perdi. Há nuvens no céu, livros sobre a mesa. Au revoir!
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